Pensava sobre o que escrever neste artigo inaugural do blog da SmartGallery e vieram algumas ideias. Desde como começar uma coleção de arte até como analisar os fatores que influenciam a precificação dela. Pesquisando, devaneei para a distinção entre preço e valor, velho chavão prescrito por Oscar Wilde. E terminei escolhendo o tema da subjetividade na arte e como auferir objetividade em sua valoração.
Arte é uma ciência humana, no geral, mas não
necessariamente, por essa razão, subjetiva. Em pesquisa, coletei várias interpretações. De um
galerista especializado em hiper-realismo, que argumenta que as pessoas não
compram Basquiat porque gostam do que veem, e que é tudo uma grande distorção,
até o crítico Jerry Saltz, que defende a reinvenção da habilidade e não atenta
para a perfeição da técnica. Saltz defende que os maiores artistas
contemporâneos da atualidade são autodidatas e que a boa arte se relaciona com
o contexto do artista e condições atemporais. Outra de suas interessantes
observações é que vivemos no mundo da Wikipedia e que seria um mundo de arte
aberto. Observação que se contrapõe ao estereótipo de mundo da arte fechado e
exclusivo, na verdade, uma interpretação mais realista. A arte e suas ferramentas,
bem como sua propagação, estão mais acessíveis a seus produtores, mas o próprio
Waltz argumenta que 75 artistas dominam os grandes leilões internacionais e as
galerias líderes.
A subjetividade da arte conecta-se à valoração e
precificação das obras pelo princípio da precificação hedonística da arte:
aqui, discorre-se sobre o prazer ou a satisfação que a pessoa sente por conta
da obra, bem como seus atributos estéticos, fator importante no preço pago. Contrapondo-se às séries históricas que são a
forma óbvia e habitual de precificar as obras dos grandes mestres.
Fatores econômicos tradicionais também influenciam os
preços, mas existe uma ciência chamada Economia da Arte, que poucos conhecem e que
tem alguns conceitos interessantes. Por exemplo, é notório que a maioria dos
artistas estabelecidos tem valorização de 5% ao ano conforme envelhecem. Outra,
obras revendidas que aparecem em leilão com frequência tem tendência à
desvalorização a cada venda. Aqui a questão da oferta e demanda, se está sempre
à venda, os colecionadores não se apressam em adquirir. Outra curiosidade é que
o antigo dono da obra influencia muito em seu preço, e obras dadas como
presentes pelos artistas são consideradas de menor valor pelo mercado. Mercado
esse definido como esperto ou ‘smart’ por Saltz.
Continuando na Economia da Arte, os movimentos de arte são
aceitos por nós mas nunca questionamos como funciona sua hierarquia. E, segundo
os acadêmicos, funciona da seguinte forma: há os fundadores do movimento, que
inventaram o estilo, e os seguidores, que são artistas menos conhecidos mas que
aderiram ao movimento. Em relação aos movimentos e mesmo aos grandes mestres,
todos são mais conhecidos por alguns objetos em comum nas suas principais
obras, Dali com os relógios e sua esposa, Klimt por mulheres erotizadas e essa
seria a segunda variável, sendo a primeira seus estilos principais. Obviamente,
as obras mais valiosas desses artistas são as de seus estilos e objetos mais
conhecidos.
Focando agora nos mercados locais, definidos pelos
acadêmicos como competitivos e com oferta ilimitada, mas de maior interesse a
nós que aspiramos iniciar uma coleção de arte, existem alguns fatores objetivos
importantes na mensuração do potencial de valorização da arte, independentemente
da valoração hedonística. Primeiramente, artistas que moram fora e/ou tem
experiência internacional, tem maiores chances de se valorizarem. Voltando à Wikipedia
de Saltz, o número de resultados de buscas no Google pelo nome do artista é um
quesito objetivo na mensuração da propagação e notoriedade de seu trabalho,
também se relacionando com o potencial de valorização. Por fim, remetendo a um
interessante artigo do New York Times, que discorre sobre a profissão do
artista e seus estereótipos, o artista dedica tempo e vida a seu trabalho, em
boa parte dos casos, e precisa ser remunerado. Por qual valor? Aí fica a
critério de nós, o inteligente mercado.