A Bienal em São Paulo, nos tempos áureos, era o objetivo máximo dos artistas, na maioria, pintores e escultores. Ser premiado em uma Bienal internacional era o sonho. Aqueles eram os tempos da arte, a partir do patronato dos Matarazzo até o começo dos anos 80. Ciccillo Matarazzo literalmente criou a Bienal em São Paulo, e também literalmente, a ditadura militar levou-a a um declínio de 1965 a 1973, com alguns artistas assinando o Manifesto “Não a Bienal’ no Museu de arte Moderna de Paris, em 1969.

Sérgio Valle Duarte Wikidata has entry Q16269994 with data related to this item. [CC BY 3.0 (https://creativecommons.org/licenses/by/3.0)]

Esse era o sonho antigamente, e qual o sonho hoje? Lógico que participar de uma Bienal ainda dá muito prestígio, mas podemos definir como meta final para uma obra de arte, estar em um museu, ou ser museum quality, jargão do meio acadêmico de arte. O museu é o destino máximo de obras de artistas validados. É uma instituição pública, mantida por verba governamental ou doadores e mantenedores privados, e, assim como a Petrobrás “é nossa” para os brasileiros, o museu se tornou um lugar amigável, como demonstrou a recente exposição da Tarsila do Amaral, no Masp.

Uma distinção fundamental entre os museus e as galerias é que as últimas têm objetivo de dar lucro ao seu dono ou marchand, ao passo que os museus não têm fins lucrativos, apesar de serem até mais comerciais, ou comerciáveis; vide a loja do MOMA. Mas os museus, a maioria, cobram entrada enquanto as galerias são de livre visitação. A Art Dealers Association of Americas cita que em Nova York as galerias oferecem a melhor educação gratuita em apreciação de arte. As exposições nas antiguíssimas galerias Colnaghi e Agnews, em Londres rivalizam com a de museus.

Jan Steen [Public domain] Uma das obras que passou pela galeria Colnaghi em Londres e agora está em um museu

Certo que algumas galerias operam como private dealers, e são fechadas a visitação ou só com hora marcada, e, apesar do imenso progresso, ainda não rivalizam com museus no Brasil. Mas o ponto desse artigo é valorizar o trabalho delas. Voltando ao sonho, para um artista iniciante, um curso superior em artes ou um Master in Fine Arts (MFA) é um bom caminho para conseguir algo nas galerias, primeiro com coletivas e depois com exposições individuais, sendo a aceitação comercial do trabalho fundamental para avançar.

Mas, um MFA é uma fortuna hoje em dia, fora o custo de viver no exterior. E, as vezes, o artista terá sorte se conseguir com seu MFA ser um dos ajudantes do Jeff Koons. Há vários caminhos para um artista, hoje em dia, a venda direta pelo Instagram é comum, inclusive por artistas estabelecidos. Complicado também ter que fazer um curso de artes, sendo que muitos dos maiores mestres são autodidatas, e, muitas vezes o artista já desenvolve um trabalho e está satisfeito com sua arte.

Finalizando, as pessoas costumam achar que o museu é o único lugar para artes, e, realmente, é o apogeu para a maioria dos artistas. Mas, eles são tocados por seres humanos como nós, talvez concursados, talvez indicados, ou talvez só bem conectados. No competitivo mundo da arte hoje, em que os meios de produção e divulgação são democratizados, há também muito valor em ter seu trabalho em uma galeria. Assim como, visitar e conhecer as galerias que trabalham de portas abertas.

Respostas